Estimulando o desenvolvimento da Economia Criativa do Rio de Janeiro por meio do Complexo Cultural da Marinha

Lorena Fraga Costa Moulin (Mestranda ESPM RIO), Lucia Maria Marcellino de Santa Cruz (ESPM RIO)

Resumo: Este artigo objetiva identificar como o Complexo Cultural da Marinha, um circuito de equipamentos que engloba museus, passeios, áreas de exposições e peças históricas, no Centro da cidade do Rio de Janeiro, estimula o desenvolvimento da Economia Criativa carioca. Muito embora estes equipamentos culturais já estivessem em funcionamento desde meados do século XX, após as obras de reestruturação da região portuária da cidade, empreendidas em função das Olimpíadas de 2016, as opções culturais da Marinha ficaram mais visíveis à população. A região, outrora de difícil acesso por conta do elevado fluxo de veículos em dias úteis e por ser um local deserto nos fins de semana, passou a se constituir num atrativo circuito de entretenimento local. Por meio de pesquisa bibliográfica e documental, além de entrevista em profundidade semiaberta, com roteiro semi-estruturado, pretende-se analisar o cenário de reestruturação da região do entorno do Complexo Cultural da Marinha desde a criação em 1979 do Corredor Cultural, uma iniciativa da prefeitura da cidade para preservação do patrimônio arquitetônico e histórico do centro do Rio. Também é objetivo deste artigo discutir a participação dos militares na Economia Criativa e a interação da Força Armada com a sociedade civil por meio de equipamentos culturais. Este artigo é fruto de pesquisa de mestrado em Gestão da Economia Criativa, desenvolvida na ESPM Rio. Uma possível conclusão é que o Complexo auxilia na manutenção de cidadãos naquela região e promove estímulo à criatividade, por meio de seus equipamentos culturais. Observa-se ainda que o Complexo Cultural da Marinha preserva, valoriza e difunde o patrimônio histórico tanto da Força Armada quanto do Brasil, estímulo esse fornecido à Economia Criativa na cidade carioca, e, por consequência, ao desenvolvimento da região.
Para um dos mais renomados nomes do campo da Economia Criativa e pioneiro na utilização do termo “cidades criativas” em suas obras, o arquiteto britânico Charles Landry (2011) define que uma das características da “cidade criativa” é a busca por valorizar a história e a cultura da população. Landry (2011) defende a ideia de que não existe lugar no mundo que não possua alguma característica histórica, social ou cultural que não possa ser mobilizada produtivamente em prol do seu desenvolvimento socioeconômico. Reis (2012, p.220) corrobora com a ideia ao trazer que “a cultura, na cidade criativa, é sua digital, é justamente o que lhe dá singularidade, gerando impactos econômicos, benefícios sociais (autoestima, coesão e engajamento) e favorecendo a construção de um ambiente criativo”.
Landry (2000, p.7) reverencia a singularidade dos espaços, trazendo como vitamina para fortalecer essa dinâmica a criação de identidade e manifestações culturais: “Cultura e criatividade estão interligadas. Cultura é a panóplia de recursos que mostram que um lugar é único e distinto […]”.
O clima e a alma cultural do Rio de Janeiro – inserido na lista da Unesco (2019) como patrimônio mundial – já haviam sido poetizados pelo escritor Mário de Andrade, quando descreveu a abrangência do patrimônio e o potencial que uma cidade pode ter ao valorizar suas riquezas intangíveis: “Das cidades se deveria tombar a atmosfera” (PINHEIRO, 2002a, p.147), numa referência ao que deveria ser preservado e que perpassa o material.