Memória

Recordar é uma das questões mais prementes do nosso século. A memória vem sendo redimensionada e valorizada, movimento acompanhado por uma expansão no campo do memorável, no que muitos consideram o estabelecimento de uma cultura da memória . A emergência da memória como uma das preocupações culturais e políticas centrais das sociedades ocidentais é um fenômeno identificado pelo crítico e professor de literatura Andreas Huyssen. Caracterizado por uma volta ao passado, este movimento vai se contrapor com a crença exacerbada no futuro, que caracterizou as primeiras décadas da modernidade do século XX. As evidências estão no surgimento e na valorização de uma cultura da memória, que concentra um número cada vez maior de passados num presente simultâneo e sempre mais atemporal: modas retrô, móveis retrô autênticos, museologização da vida cotidiana através de câmeras filmadoras, Facebook e outras mídias sociais, reencontros saudosistas de músicos de rock mais velhos etc.

Da Grécia antiga aos dias de hoje, a memória tem funcionado como uma espécie de lugar de nutrição da identidade individual, por meio do qual também as identidades coletivas são fundadas, de acordo com Jöel Candau. Trata-se de um fenômeno construído socialmente, como ressalta Michel Pollak,  cujas funções essenciais são manter a coesão interna e defender os limites do que um grupo tem em comum. O sistema simbólico é a essência da memória coletiva, aponta Maurice Halbawchs. Transforma-se, assim, em um quadro de referência e também em um mapa simbólico, por meio da identificação e do compartilhamento de significados. Pierre Nora sinaliza a necessidade de criação de “santuários de memória”, face ao fenômeno da aceleração da história que faz com que o presente se torne cada vez mais volátil.  O conceito indica que há lugares – espaços físicos ou não – onde as pessoas, os grupos sociais ou até mesmo uma sociedade inteira podem ancorar sua memória, face ao fenômeno da aceleração da história que faz com que o presente se torne cada vez mais volátil. Estes santuários de memória se tornam conhecidos como lugares de memória.

Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, atas, estabelecer contratos, porque essas operações não são naturais.

Os lugares da memória são, portanto, espaços de representação  – e de produção de novas memórias – num processo contínuo de geração de novos significados e de organização de novos arranjos simbólicos.

Os setores criativos também se inserem nesta lógica. Se hoje vemos uma efervescência em torno da Economia Criativa, especialmente em relação a cidades e clusters criativos, cabe reconhecer que novas representações se formam nesse espaço simbólico. Torna-se assim importante investigar que sentidos advêm das novas práticas envolvendo os setores criativos, ao mesmo tempo em que se reconhecem as marcas temporais e memoriais impregnadas nestes contextos. Este é o propósito do Laboratório de Estudos de Memória Brasileira e Representação – LEMBRAR.

Confira a bibliografia básica do LEMBRAR aqui.