Arte Concreta Paulista: diálogos com o Design

Ana Lucia Gimenez Ribeiro Lupinacci (ESPM SP)

Resumo: Este artigo busca trazer alguns dos tantos pontos relevantes e inovadores da Arte Concreta Paulista, situada nos anos 1950, dentro de um arco estético/político maior, internacional, no que foi nomeado Projeto Construtivo Moderno e que orientou posições de artistas, autores – vários destes em diálogo com o design. Diálogo este visto, aqui, sob a perspectiva teórica de Vilém Flusser, que o elabora como “discurso orientado para a troca”, numa situação comunicativa distinta. A arte Concreta, nessa situação de diálogo com o design, mostrou pertinência e adequação de posicionamento em escolhas formais coesas ao pensamento e proposição ali colocados. O abstracionismo concreto – longe de ser predominantemente um recurso estilístico, aproximou essa adequação e trouxe conexão de significados, impactando projetos de identidade visual, publicações, embalagens, mobiliário. O Concretismo – Arte Concreta ou Movimento Concreto – nos lega uma imbricação estética/ ética e que foi uma “marca de ser” para muitos de seus artistas. Em São Paulo, a partir do início dos anos 1950, temos um cenário ativo e cosmopolita com a Bienal Internacional e o MAM SP; também o MASP com suas exposições internacionais – onde destaca-se a de Max Bill (Suíça, 1908-1994) e que “inspirou” o, então, jovem artista em formação e futuro designer, Alexandre Wollner. Max Bill elabora a ideia de Concretismo, como a arte da estrutura e poliniza também a ideia de arte concreta em sua vinda ao Brasil para aquela exposição no MASP. O Museu ainda apresentou na época seu programa educativo pelo IAC e EPSP, Instituto de Arte Contemporânea e Escola de Propaganda de São Paulo, respectivamente, no propósito de amplificar e vitalizar a ideia corrente de arte. O IAC se propôs a ensinar o desenho industrial e a EPSP, a propaganda – ambos tidos por P. M. Bardi como novas expressões da arte contemporânea. Há também nesse período a emergência em São Paulo de dois grandes grupos, coletivos artísticos e pensantes: o RUPTURA e o NOIGANDRES, ambos de 1952. Sobre o primeiro, Décio Pignatari afirma ter sido ali iniciada a grande aventura do Concretismo brasileiro. Um cenário de efervescência e inovação cultural em São Paulo. Paralelamente, no RJ temos o Grupo FRENTE e os chamados Neoconcretistas.
Como ancoragem teórica, o Movimento tem Mário Pedrosa, que tratou da influência da teoria da Gestalt sobre a obra de arte em sua tese e, de modo mais amplo, com pesquisas na área da abstração. Em 1956, o MAM SP abre a I Exposição de Arte Concreta, com 20 artistas e seis poetas. Um bom número deles transitou ou migrou para o design. Essa I Exposição de Arte Concreta foi reeditada sob criteriosa pesquisa histórica, iconográfica e curadoria em 2006, sob liderança de André Stolarski e chamada de concreta: a raiz da forma. O movimento Concreto como ideia de um projeto construtivo avançou nas décadas seguintes, marcadamente até os anos de 1970, e ainda hoje mostra-se uma potente construção e legado, possibilitando desdobramentos, reflexões renovadas, contraposições que nos apontam para obras de arte e design como obras de pensamento. E justamente por ser um movimento, é conceitualmente inconclusivo, à medida que pensa Estruturas e Espacialidade dentro de um jogo de percepções e metalinguagem, que nos insere em ambientes estéticos como sendo também sócio-políticos. Waldemar Cordeiro colocou que o Concretismo reivindicou a linguagem real das artes plásticas, expressa em linhas, planos e cores que são linhas, planos e cores; não desejam ser “peras nem homens”. Para a relação com o design brasileiro, paulista, e sua emergência como profissão e campo, nos coloca a pensar questões contemporâneas e, como dito, desdobramentos e reflexões renovadas, onde distintas situações comunicativas nos são postas; a pensar a relação entre teoria e experiência que se estabelece no fazer e no educar design; a pensar e atuar nas fronteiras aguadas entre linguagens e culturas.