VESTIR A LUTA: a moda como veículo de sensibilização sobre a violência contra jovens negros no Brasil

Patrícia Mendonça Lima (ESPM)

Resumo: Os registros de mortalidade da juventude negra são resultado de uma série de outras violências sofridas por esse segmento, uma vez que o Estado brasileiro não é capaz de oferecer acesso igualitário de negros e brancos às políticas e aos serviços sociais. Tal inação contribui para a naturalização e a banalização dessas violações, por parte de variados setores da sociedade. Segundo Neri (2019), na pesquisa A Escalada da Desigualdade – Qual foi o Impacto da Crise sobre Distribuição de Renda e Pobreza? produzida para a Fundação Getulio Vargas (FGV), a desigualdade está crescendo no Brasil por 17 trimestres consecutivos – do segundo trimestre de 2015 ao segundo trimestre de 2019 –, um recorde histórico.
Mas, diante desse cenário que descrevemos acima, como o design (cerne da linha de pesquisa que a pesquisa se insere, dentro do Programa de Economia Criativa e pode contribuir para impactar de forma positiva estruturas estagnadas de poder?
Ao expor materialmente as informações sobre a violência no Brasil, esta pesquisa ganha um cunho político e problematizador objetivando promover a sensibilização e prolongar a discussão em relação a mortes de jovens negros e se vale do caráter didático e do papel social do design. Partindo do pressuposto de que a moda pode ser vista como um reflexo das transformações sociais, a pesquisa utiliza-se deste universo como plataforma de discussão para: ligar esforços e pessoas aderentes à causa do genocídio de jovens negros no Rio de Janeiro, gerar uma maior visibilidade e entendimento do problema, reforçar valores como diversidade e inclusão social, pretendendo estabelecer.
Talvez, encarnando uma certa relatividade, a abordagem teórica dessa pesquisa inclui autores aparentemente díspares como Foucault (pós-estruturalista, crítico da modernidade) e Lipovetsky (que exacerba o moderno – ou a hipermodernidade). Assim, parte dos autores utilizados constroem a discussão – o genocídio dos jovens negros favelados ou de periferia – e, parte, ancoram a proposta de estetização do problema.
O primeiro capítulo deste documento apresenta, de forma muito geral, os dados quantitativos da violência no Brasil, tendo como principais fontes a Organização da Sociedade Civil (OSC) mexicana Segurança, Justiça e Paz, a CPI do Senado sobre o Assassinato de Jovens e o Atlas da Violência no Brasil de 2019 apresentado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). O segundo capítulo trata das mobilizações sociais e manifestações públicas traçando suas diferentes interações entre organizações, grupos, pessoas, redes, movimentos ou outros(as) participantes. O terceiro, apresenta a luta e os movimentos sociais de mães que perderam seus filhos para a violência, onde serão citados o Movimento Mães de Acari, o Movimento Mães de Maio, o Encontro Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado e o Movimento Moleque com entrevista de sua cofundadora – Mônica Cunha. O quarto capítulo fala sobre a possibilidade da moda e o vestuário funcionarem como um veículo de expressão e sobre a primeira estilista a realizar um desfile-protesto político no Brasil – Zuzu Angel.
Ao final, a pesquisa entrega o projeto de uma plataforma digital colaborativa intitulada “E Se Fosse Seu Filho?” que visa, através da moda e usando a camiseta como veículo de comunicação, promover e prolongar a denúncia do genocídio contra jovens negros do Brasil. A plataforma veio para atender às expectativas da pesquisa e dar visibilidade para a causa, entendendo o poder do design como ferramenta social capaz de reforçar valores como diversidade e inclusão, estabelecendo um diálogo com o público de diferentes gêneros, grupos sociais e idades. É, portanto, um espaço sem fins lucrativos que ambiciona ligar pessoas à causa que vem ao encontro de uma fragilidade que se percebe nos movimentos sociais de mães: a sustentabilidade.